Diário do infiel

Passeando por Paris no ano passado, entrei numa livraria (tipo de estabelecimento que eu faço questão de visitar em qualquer país) e acabei esbarrando no “Diário do infiel”, de Pierre Salducci. O tema é algo que me atrai (talvez quase na mesma medida em que me desagrada), então resolvi comprar.

O Prefácio já soa como uma desculpa do autor, que diz não se lembrar direito dos acontecimentos – encontrada em um caderno que era seu diário aos 25 anos – e parece esperar ser perdoado por isso. A história é banal: Pierre está sufocado pelo relacionamento com Jean e decide morar em um apartamento separado (ainda que no mesmo prédio). Logo, ele está envolvido com Christophe, um jovem que divide apartamento com um grupo sempre promovendo festas regadas a bebidas e drogas, e Kamel, um garoto ainda com certa inocência e vindo de uma família conservadora.

Pierre Salducci não é um grande escritor (apesar do livro se autoproclamar um sucesso na época em que foi publicado pela primeira vez), mas não é exatamente o estilo do texto que o torna enfadonho: o problema é que o autor tenta, a todo custo, racionalizar as traições que comete para poder justificar a sua atitude e ser considerado inocente. Como se trata de um diário, as páginas parecem ser sua maneira de tentar perdoar a si mesmo pelo que ele, no fundo, considera errado. E a partir de um momento, os leitores simplesmente perdem todo o respeito por ele – aqueles que consideram traição algo completamente condenável o abandonam porque suas justificativas começam a ficar patéticas; já aqueles que consideram traição como algo normal o abandonam porque se cansam das justificativas para algo que não condenam.

Moral da história? Quem trai deve fazê-lo conscientemente e não fingir ter um código de valores que leva em consideração terceiros. Já que é pra fazer a merda, então desencane da pose de filósofo de relacionamentos contemporâneos: não cai bem!

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